domingo, 17 de fevereiro de 2013

Caminhos da auto-cura

Caminhos da auto-cura Quando o nosso organismo não consegue driblar o “inimigo” externo, adoece e deixa marcas impressas na nossa pele. Mas há uma técnica capaz de detectar esses registros e dar uma nova chance ao nosso corpo para vencê-los e, surpreendentemente, encontrar a cura. Por Vanessa Olivier Em seus discursos sempre calorosos, certa vez Che Guevara, um dos mais famosos revolucionários comunistas da história, disse: “Muitos me chamam de aventureiro e o sou, só que de um tipo diferente: dos que entregam a pele para provar suas verdades”. Ele não estava mentindo, tão pouco lançando metáforas ao vento para enveredar jovens idealistas, no afã de suas pregações. Sim, ele entregava a própria pele às moléstias do mundo e sentia o inconformismo vertendo como suor, uma espécie de combustível que alimentava sua fome pela igualdade. E guiado por seu espírito guerreiro e pela incapacidade de tolerar injustiças, acabou se tornando símbolo eterno de coragem e rebeldia ao abandonar o poder em Cuba para lutar e morrer nos confins da selva boliviana. “Mas o que tudo isso tem a ver com auto-cura?” Com certeza, você deve estar se perguntando. É simples. Che Guevara é apenas um exemplo de ser humano que viveu suas emoções à flor da pele, literalmente. Entretanto, essa característica não foi (e não é) privilégio só dele. Todos nós vivemos guiados por nossas emoções, que são registradas na nossa epiderme, como dados codificados extremamente complexos. Momentos de alegria, de prazer, de amor, de carinho, alimentam nosso corpo, como bombas potentes de vitaminas, irrigando a plantinha sensível e imensa que é a nossa pele, nossa capa de proteção. Da mesma forma, episódios de tristeza, de medo, de dor, de insegurança, contaminam e ferem nosso organismo que, por sua vez, tem a brilhante capacidade de se defender e superar essa avalanche, criando fortes barreiras protetoras. Mas, por alguma fragilidade ou deficiência do sistema imunológico, ou ainda, quando essas agressões ultrapassam o limite de defesa do nosso corpo, as células são atingidas em cheio, sofrendo mudanças significativas. Como resultado, a nossa vitalidade é abalada e, consequentemente, adoecemos porque não conseguimos eliminar as “cicatrizes” teimosas, gravadas em nossa tez. O mais curioso é que, em muitos casos, esses rastros maléficos podem vir a ser um legado dos nossos antepassados, o que a ciência chama de herança genética. E é aí que entra a microfisioterapia – terapia francesa que ensina ao corpo os caminhos da auto-cura. A pele e o toque Aprendemos na escola, maravilhados, que a nossa pele é o maior órgão do corpo humano. Quando adultos, temos, em média, 1,67m² de pele. Mas essa não é a sua única incrível característica. Ela guarda milhões de nervos, que agem como receptores sensitivos. Toda vez que alguém nos toca, esses pequenos “mensageiros” avisam nosso cérebro que estamos sendo tocados. E se o toque for brusco, eles disparam, imediatamente, o alarme da dor, nos mantendo em alerta. Apesar de ninguém gostar de sentir dor (exceto os masoquistas), ela é extremamente necessária, pois é o aviso de que algo não está bem. É por isso que os portadores de analgesia congênita, ou síndrome da neuropatia sensitiva autonômica hereditária (sofrida por quem é total ou imparcialmente insensível à dor), não têm nenhuma vantagem, muito pelo contrário. Sem esse alarme, acabam suscetíveis a doenças (que são detectadas em estágio avançado) e acidentes frequentes, pois não recebem o alerta de que algo errado aconteceu. Mas não é só por causa da dor que o tato se faz tão importante. Um simples toque de alguém, como um carinho, um cafuné, um beijo ou um abraço pode funcionar como um calmante poderoso. Diversos estudos já comprovaram os benefícios do contato físico, as consequências desastrosas da falta dele e a necessidade (quase fisiológica) que temos de tocar e sermos tocados. Um dos últimos, conduzidos pelos neurocientistas norte-americanos James Coan, Richard Davidson e Hillary Schaefer, da Universidade da Virgínia, testou o poder do tato sob as mulheres. Para a pesquisa, as voluntárias se submeteram a um aparelho de ressonância magnética funcional, com o aviso de que ouviriam uma explosão seguida de ruído branco (estrondo produzido pela combinação simultânea de sons de todas as frequências). Essa experiência provocou, no cérebro delas, uma atividade intensa nas áreas relacionadas à ameaça e estresse. O interessante é que o mesmo não ocorreu com as mulheres que tinham a mão segurada pelo parceiro. Os pesquisadores concluíram que o toque pode ter desativado a reação de medo nessas participantes. A técnica Terapias que usam o poder do toque para promover bem estar ou curar doenças existem desde os tempos mais remotos. A Ayurveda, por exemplo, data de 1800 a.C. Mas uma recente técnica, criada pelos franceses Patrice Benini e Daniel Grosjean, há 30 anos, vem revelando um novo caminho para quem deseja encontrar alívio de males antigos ou recentes. Por meio de delicados toques, especialistas conseguem detectar rastros de acontecimentos que ficam impressos no corpo e que são responsáveis por disfunções físicas e psíquicas. É a microkinésithérapie (micro = pequeno, kinési = movimento e thérapie = tratamento), ou microfisioterapia (em português). Uma das poucas especialistas que aplicam a técnica no Brasil é a fisioterapeuta Silvia de Oliveira Pauleto Dall’oca, que atende em Itu, Porto Feliz e Tietê, além de ministrar palestras por todo o país. Segundo ela, a terapia tem como base quatro princípios: auto-cura, cicatriz patológica, correção homeopática e micropalpações. A primeira é a capacidade do organismo de reconhecer seu agressor e se defender dele. Quando não há esse reconhecimento, seja pela intensidade da agressão ou pela sua forma inesperada de agir, surge uma espécie de “cicatriz” nos tecidos, ou seja, uma memória dos acontecimentos. “Essa ‘cicatriz’ deforma a célula e atrapalha sua função, provavelmente gerando sintomas. O tecido onde a lesão está instalada é caracterizado pela diminuição ou perda de vitalidade. E é sobre essa ‘cicatriz’ patológica que o gesto de correção deve ser aplicado”, explica. Por meio das micropalpações no corpo do paciente, o fisioterapeuta busca a sensação da perda de ritmo vital, que é a “cicatriz” patológica. Isso é possível devido à ligação embrionária que existe entre a pele e o sistema nervoso. Ao detectar um “registro”, o próximo passo é estimular manualmente o local para reinformar ao organismo a presença dessa agressão e, assim, desencadear o processo de auto-correção. O corpo, por sua vez, vai reencontrar a memória do choque e concentrar-se nela para poder eliminá-la definitivamente. “É importante lembrar que se trata de uma técnica complementar à medicina e à fisioterapia tradicional. Além de estimular a auto-cura, ela também ajuda a dar vitalidade aos tecidos, prevenindo doenças”. Após o tratamento, Silvia alerta sobre alguns efeitos colaterais, como cansaço e sono excessivo. Ela diz que isso pode ocorrer porque o corpo passa a assimilar as novas informações e a dar início aos processos de retomada do equilíbrio orgânico. “Para que esses efeitos sejam mínimos, é recomendável tomar bastante água e não fazer atividade física durante dois dias”, diz. Também, após a sessão, Silvia orienta esperar uma semana, no mínimo, para realizar qualquer tratamento corporal. As sessões (que custam 200 reais, cada) devem ocorrer a cada 30 ou 60 dias, dependendo da prescrição e do estado do paciente. “O resultado difere de pessoa para pessoa. Há pacientes que têm seus problemas resolvidos com apenas uma sessão”, relata. É o caso da empresária Roseli Bernadete Deblasi, de 50 anos. Incomodada há tempos por dores constantes na lateral do corpo (altura dos rins), Roseli chegou a passar por quatro médicos e a realizar diversos exames para detectar. a causa do problema. Nada resolveu. “Os exames estavam sempre normais, até que minha cunhada me indicou a microfisioterapia”, conta. Já cansada de tentar descobrir o motivo daquela dor persistente, Roseli resolveu experimentar algo novo. “Saí do consultório sem acreditar que poderia dar certo. Mas para a minha surpresa, no dia seguinte a dor havia, simplesmente, desaparecido”. Depois de um ano, ela retornou à sessão de microfisioterapia em busca de alívio para um outro incômodo – uma dor teimosa no pescoço. Assim como ocorreu na primeira vez, no dia seguinte, o desconforto havia sumido, como mágica. “Já faz dois anos que fiz a primeira sessão, e nunca mais tive dor. Estou superbem e feliz”, comemora. Minha experiência Antes de começar a sessão, Silvia anotou meus dados, como nome completo, data de nascimento, estado civil, profissão e endereço. Também quis saber minhas principais queixas em relação à saúde. Desfilei meu “rosário” de moléstias, como renite, bronquite, intestino preguiçoso e a danada da fibromialgia (síndrome que provoca dores pelo corpo, insônia e fadiga). Depois, tirei os sapatos e me deitei na maca, vestida dos pés à cabeça, com as pernas dobradas. Silvia começou a distribuir toques sutis por diversos pontos do meu corpo: braços, mãos, pés, pernas, rosto, costas e cabeça. Entre um toque e outro, ela parava e anotava. “Há um registro aqui. Dois meses de gestação da sua mãe”. “Há outro aqui, sétimo mês de gestação”. Os tiros certeiros me deixaram de boca aberta. O início da gravidez da minha mãe não foi nada fácil. Já com dois filhos pequenos e o aviso constante de meu pai sobre “fechar a fábrica”, a descoberta da terceira gestação abalou profundamente seu estado emocional. Além de temer não conseguir cuidar de mais uma criança, tinha medo de contar ao meu pai. Mas, felizmente, tudo ficou bem e a gravidez correu tranquila. Porém, um alarme disparou, exatamente no 7º mês: ansiosa por vir ao mundo (o que pode ser explicado devido a minha quase incontrolável ansiedade por tudo), ameacei nascer antes da hora. Percebendo que não seria o momento certo, recuei. “Rebate falso”, minha mãe me contou, certa vez, quando eu já era adulta. Dando continuidade aos toques, Silvia foi falando idades precisas e os sentimentos atrelados a elas, que deixaram “cicatrizes” em minha epiderme: 4, 13, 17, 19, 25, 29 anos. As quatro últimas idades, em especial, trouxeram fatos e emoções marcantes. Lembro-me de cada uma delas: medo, tristeza, dor, inconformismo, raiva, estresse etc. E essa revelação me desconcertou, pois, diferentemente do que eu imaginava (ou melhor, tinha plena convicção), esses acontecimentos não foram totalmente superados. Tanto que ainda estão (ou estavam) comigo, gravados a ferro e fogo em minha “capa protetora”, que eu julgava ser tão forte e impenetrável quanto uma rocha. Ela foi ainda mais certeira ao encontrar um registro de, exatamente, três semanas atrás. “Irritação, algo te perturbou bastante”. Novamente, estava certa. Para completar, Silvia revelou aflições e devaneios que me seguem, diariamente, onde quer que eu vá. Algo que, talvez, meu analista (se eu tivesse um) nunca me diria. Ao final da sessão, acabei concluindo, pasma, que minha “rocha” tinha sido perfurada com apenas alguns toques suaves das mãos de Silvia. E ela, por sua vez, tinha acessado meus arquivos íntimos (lotados, por sinal), enviando mensagens ao meu computador central (cérebro) de que minhas pastas estavam abarrotadas e precisavam, urgentemente, de uma faxina. Agora, meu corpo está pronto para iniciar a limpeza e, consequentemente, encontrar a auto-cura. Só espero que ele não erre o caminho… Saiba mais Para saber mais sobre a microfisioterapia, acesse o sites: www.microfisio.com (site da Profa Silvia) www.microfisioterapia.com.br (Escola de Terapia Manual e Postural) www.clinicacrm.com.br Marco Antonio Accessor Braga Fisioterapeuta - Clínica CRM SJCampos - SP